segunda-feira, 2 de março de 2009

Obama e as favelas do mundo



Obama e as favelas do mundo
Higor Marcelo Lobo Vieira*

O processo de luta e busca por direitos básicos dos negros norte-americanos é histórico e muitas vezes foi banhado pelo sangue daqueles que buscaram por meio da luta política amenizar o sofrimento dos descendentes africanos oprimidos nas lavouras de algodão, portos e porões, perseguidos, torturados e mortos por membros da Ku Klux Klan e em grande medida por boa parte da sociedade por mais de um século.
Homens como o pastor Martin Luther King, Malcom X, os Black Panthers e muitos artistas/ativistas do Hip Hop que por meio de seus atos políticos, discursos, músicas e organizações, buscaram desmantelar a segregação racial, tão exacerbada nos EUA, sentimento este que acaba por se reproduzir em várias esferas e poderes da sociedade americana, deixando "claro" para todos quais eram as intenções dos descendentes europeus na América, depois do genocídio quase total dos povos indígenas em todo continente reduzindo-os a pequenas reservas – nos EUA foram quase extinguidos do mapa – faltava agora "limpar" a nação dos negros.

Coincidentemente ou não os métodos usados foram bem parecidos com os que foram adotados aqui no Brasil, no sentido de minar a ascensão econômica, política e social dos negros, deixando-os á margem da sociedade e dos processos produtivos, expulsando-os dos espaços do centro e obrigando o deslocamento para áreas como morros, encostas, longe do centro urbano branqueado pela imigração européia no fim do século XIX, início do século XX, deixando um legado de miséria e favelização no Brasil, que desde o império adotou um sistema de concentração de renda, latifúndios, barões do café, senhores de engenho, enquanto a maioria dos homens e mulheres negros desse país sofriam e sofrem uma segregação racial e social tão drástica quanto a norte-americana, maquiada pelo discurso do trabalho, pela miscigenação da nação, desmistificando o ideário racista contido e implícito nas classes dominantes do Brasil.

O grito de liberdade contido na garganta por séculos de exploração do trabalho negro, por séculos de espoliação dos direitos humanos e agressão aos afro-americanos veio em forma de voto, mostrando ao mundo que é possível por meio da democracia trilhar caminhos outros que não seja os de interesse apenas de uma elite conservadora e protecionista... Obama traz as populações negras no mundo uma esperança jamais vista no sentido de que os EUA tenham um novo olhar para com as favelas do mundo.

No Brasil a eleição de Barack Obama teve um efeito duplamente positivo, além de representar a ascensão do homem negro como o mais poderoso do mundo e toda a simbologia implícita neste ato, conciliou ainda, com uma data muito importante para milhões de brasileiros que vivem em áreas consideradas de risco, já que no ultimo dia 04 de novembro foi comemorado em várias capitais e cidades do país o dia da favela, uma iniciativa da Central Única das Favelas – CUFA que visa dar visibilidade às demandas das comunidades, bem como, promover ações que tragam um pouco de felicidade e auto estima um povo tão martirizado. É neste sentido que saudamos as favelas brasileiras e mundiais e brindamos com todos os seres humanos que lutaram e sonharam com esse momento.

* Estudante do 4º ano de Geografia pela UFGD – Universidade Federal da Grande Dourados e Coordenador geral da CUFA / MS

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