sexta-feira, 3 de julho de 2009

Contratempo



Contratempo
Arami Argüello Marschner*

Devo escrever uma crônica. Minha professora de português me avaliará por ela, conforme a minha coerência nos itens rigorosos que o vestibular exige. Nunca fui muito coerente em itens rigorosos, mas na escrita sempre achei que acentuar a rigorosidade, é a incoerência.



Nestes momentos me lembro de um grande amigo, a quem chamávamos de “Contratempo”, porque se contradizia às afirmações, e adorava a palavra “depende”. Já naquele tempo ele escrevia muito bem e era conhecido por seus poemas e contos.



Um dia, ao lamentar-me de uma resenha minha que não se adequava ao tipo de texto proposto, Contratempo me convidou a sentar no banco da praça e me perguntou com um ar de preocupação: “Mas a escrita não é um mar dentro de ti? Como deter as ondas de idéias, os impulsos calmos ou bravos que deságuam em forma de palavras no papel?”.



Estas palavras foram ditas ao anoitecer, quando o sol radeava o meu grande amigo, e foi daí então uma chave para mim. Sim, é claro que a escrita é um fruto nosso, é um mar dentro de nós... é um pássaro livre.



Degustei muito deste ato revolucionário que é o ato da escrita. Hoje, Contratempo se foi, mas deixou imortal seus poemas. Aprendi que a escrita não se limita a formatações teóricas e itens rigorosos, mas que flui igual às correntezas quando descobrimos o poder da palavra escrita.




* Arami Argüello Marschner é aluna do 3o ano do Ensino Médio da Escola Estadual Presidente Vargas, em Dourados/MS.