domingo, 29 de março de 2009

Reflexão - Meio Ambiente






“Somos um grupo de crianças canadenses de 12 a 13 anos tentando fazer a nossa parte, contribuir (...). Todo dinheiro que precisávamos para vir de tão longe conseguimos por nós mesmos para dizer que vocês adultos têm que mudar o seu modo de agir. Ao vir aqui hoje, não preciso disfarçar meu objetivo.

Estou lutando pelo meu futuro. Não ter garantia quanto ao meu futuro não é o mesmo que perder uma eleição ou alguns pontos na bolsa de valores. Estou aqui para falar em nome das gerações que estão por vir. Estou aqui para defender as crianças com fome, cujos apelos não são ouvidos. Estou aqui para falar em nome dos incontáveis animais morrendo em todo o planeta porque já não tem mais pra aonde ir.

Não podemos mais permanecer ignorados. Hoje tenho medo de tomar sol, por causa dos buracos na camada de ozônio. Tenho medo de respirar esse ar porque não sei que substância químicas o estão contaminando. Eu costumava pescar em Vancouver com meu pai até o dia em que pescamos um peixe com câncer. Temos conhecimento de que animais e plantas estão sendo destruídos a cada dia e, em vias de extinção.

Durante toda a minha vida eu sonhei ver grandes manadas de animais selvagens, selvas florestas, tropicas repletas de pássaros e borboletas, mas agora eu me pergunto se meus filhos vão poder ver tudo isso. Vocês se preocupavam com essas coisas quando tinham a minha idade? Todas essas coisas acontecem bem diante dos nossos olhos e, mesmo assim, continuamos agindo como se tivéssemos todo o tempo do mundo e todas as soluções. Sou apenas uma criança e não tenho as soluções, mas quero que saibam que vocês também não tem.

Vocês não sabem como reparar os buracos na camada de ozônio. Vocês não sabem como salvar os salmões das águas poluídas. Vocês não podem ressuscitar os animais extintos. Vocês não podem recuperar as florestas que um dia existiram, onde hoje é deserto. Se vocês não podem recuperar nada disso, então, por favor, parem de destruir! Aqui vocês são os representantes de seus governos, homens de negócios, administradores, jornalistas ou políticos, mas na verdade são mães e pais, irmãs e irmãos, tias e tios.

E todos vocês também tem filhos. Sou apenas uma criança, mas sei que todos nós pertencemos a uma família de 5 bilhões de pessoas e ao todo somos trinta milhões de espécies compartilhando o mesmo ar, a mesma água e o mesmo solo. Nenhum governo, nenhuma fronteira poderá mudar esta realidade. Sou apenas uma criança, mas sei que o problema atingi todos nós e deveríamos agir como se fôssemos um único mundo rumo a um único objetivo.

Apesar da minha raiva não sou cega, apesar do meu medo, não sinto medo de dizer ao mundo como me sinto. No meu país geramos tanto desperdício, compramos e jogamos fora e os países do Norte não compartilham com que precisam. Mesmo quando temos mais do que o suficiente, temos medo de perder nossas riquezas, medo de compartilha-las. No Canadá, temos uma vida privilegiada, com fartura de alimentos, água e moradia. Temos relógios, bicicletas, computadores e aparelhos de TV. Há dois dias, aqui no Brasil, ficamos chocados quando estivemos com crianças que moram na rua.

Ouçam o que uma delas nos contou: “ Eu gostaria de ser rica e se fosse, daria a todas as crianças de rua alimentos, roupas, remédios, moradia, amor e carinho”. Se uma criança de rua que não tem nada ainda deseja compartilhar, por que nós, que temos tudo, somos ainda tão mesquinhos? Não posso deixar de pensar que essas crianças têm a minha idade e que o lugar onde nascemos faz uma tremenda diferença. Eu poderia ser uma daquelas crianças que vivem nas favelas do Rio. Eu poderia ser uma criança faminta da Somália, uma vítima da guerra do Oriente médio ou uma mendiga na Índia.

Sou apenas uma criança, mas ainda assim sei que se todo o dinheiro gasto nas guerras fosse utilizado para acabar com a pobreza, para achar soluções para os problemas ambientais,que lugar maravilhoso a Terra seria! Na escola, desde o jardim de infância, vocês nos ensinaram a não brigar com os outros, resolver as coisas bem, respeitar os outros, arrumar nossas bagunças, não maltratar outras criaturas, dividir e não ser mesquinho.

Então, por que vocês fazem justamente o que nos ensinaram a não fazer? Não esquecem o motivo de estarem assistindo a estas conferências. E para quem vocês estão fazendo isso. Vejam-nos como seus próprios filhos. Vocês estão decidindo em que tipo de mundo nós iremos crescer. Os pais devem ser capazes de confortar os seus filhos, dizendo-lhes: “ tudo vai dar certo. Estamos fazendo o melhor que podemos”. Mas não acredito que possam nos dizer isso.

Estamos sequer na sua lista de prioridades? Meu pai sempre diz: “Você é aquilo que faz. Não aquilo que diz”. Bem, o que vocês fazem nos faz chorar à noite. Vocês adultos nos dizem que nos amam. Mas eu desafio vocês, por favor, façam suas ações refletirem as suas palavras. Obrigada”.

Severn Suzuki, menina de 12 anos, que falou durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como Conferência Rio - 92 ou Eco-92. Ela foi à conferência como representante de uma organização de crianças em defesa do meio ambiente.
















segunda-feira, 16 de março de 2009

Debaixo da Ponte


Debaixo da Ponte

Carlos Drummond de Andrade

Moravam debaixo da ponte. Oficialmente, não é lugar onde se more, porém eles moravam. Ninguém lhes cobrava aluguel, imposto predial, taxa de condomínio: a ponte é de todos, na parte de cima; de ninguém, na parte de baixo. Não pagavam conta de luz e gás, porque luz e gás não consumiam. Não reclamavam contra falta dágua, raramente observada por baixo de pontes. Problema de lixo não tinham; podia ser atirado em qualquer parte, embora não conviesse atirá-lo em parte alguma, se dele vinham muitas vezes o vestuário, o alimento, objetos de casa. Viviam debaixo da ponte, podiam dar esse endereço a amigos, recebê-los, fazê-los desfrutar comodidades internas da ponte.

À tarde surgiu precisamente um amigo que morava nem ele mesmo sabia onde, mas certamente morava: nem só a ponte é lugar de moradia para quem não dispõe de outro rancho. Há bancos confortáveis nos jardins, muito disputados; a calçada, um pouco menos propícia; a cavidade na pedra, o mato. Até o ar é uma casa, se soubermos habitá-lo, principalmente o ar da rua. O que morava não se sabe onde vinha visitar os de debaixo da ponte e trazer-lhes uma grande posta de carne.

Nem todos os dias se pega uma posta de carne. Não basta procurá-la; é preciso que ela exista, o que costuma acontecer dentro de certas limitações de espaço e de lei. Aquela vinha até eles, debaixo da ponte, e não estavam sonhando, sentiam a presença física da ponte, o amigo rindo diante deles, a posta bem pegável, comível. Fora encontrada no vazadouro, supermercado para quem sabe freqüentá-lo, e aqueles três o sabiam, de longa e olfativa ciência.

Comê-la crua ou sem tempero não teria o mesmo gosto. Um de debaixo da ponte saiu à caça de sal. E havia sal jogado a um canto de rua, dentro da lata. Também o sal existe sob determinadas regras, mas pode tornar-se acessível conforme as circunstâncias. E a lata foi trazida para debaixo da ponte.

Debaixo da ponte os três prepararam comida. Debaixo da ponte a comeram. Não sendo operação diária, cada um saboreava duas vezes: a carne e a sensação de raridade da carne. E iriam aproveitar o resto do dia dormindo (pois não há coisa melhor, depois de um prazer, do que o prazer complementar do esquecimento), quando começaram a sentir dores.

Dores que foram aumentando, mas podiam ser atribuídas ao espanto de alguma parte do organismo de cada um, vendo-se alimentado sem que lhe houvesse chegado notícia prévia de alimento. Dois morreram logo, o terceiro agoniza no hospital. Dizem uns que morreram da carne, dizem outros que do sal, pois era soda cáustica. Há duas vagas debaixo da ponte.

ANDRADE, Carlos Drummond de Andrade. Obra Completa. Rio de Janeiro: José Aguilar Editora, 1967

quarta-feira, 4 de março de 2009

George Orwell e o BBB original


George Orwell e o BBB original.

"Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir."

George Orwell é um escritor que deveria ser mais conhecido nos dias de hoje.

Claro que por ser professor de Literatura, eu penso isso de inúmeros autores, que merecem ser mais lidos do que são. Mas não é a isso que me refiro.

Em tempos de Big Brothers e “reality shows”, o nome de Orwell deveria ser mais lembrado do que é... Afinal, este escritor britânico foi o inventor da figura do legítimo e original Big Brother em seu livro 1984.

Então vamos lá: George Orwell é na verdade o pseudônimo de Eric Arthur Blair, nascido no ano de 1903 em Bengala, na Índia Inglesa. Tornou-se um dos grandes autores de língua inglesa no século XX, mas antes disso teve um passado curioso.

Orwell foi agente da polícia inglesa indiana, mas deixou o posto em 1928, provavelmente por ser contra a dominação imperialista inglesa. Foi para a Europa, onde viveu muitos anos na pobreza, viajando de cidade em cidade e sobrevivendo com alguns trabalhos ocasionais. Em 1933 começou a escrever regularmente para jornais, adotando o pseudônimo que o tornaria famoso.

Autor engajado, na década de 30 rumou para a Espanha, onde lutou na Guerra Civil para defender os ideais revolucionários de liberdade. Embora nunca tenha sido comunista, Orwell era afinado com algumas ideias socialistas.

Mas durante a luta na Espanha, o escritor se entristeceu com a truculência da política stalinista contra outras correntes do pensamento socialista e de esquerda (como o anarquismo).

Profundamente decepcionado e ferido na batalha com um tiro na garganta, George Orwell voltou para a Inglaterra, onde escreveu dois romances claramente contrários à ditadura de Stalin: A Revolução dos Bichos e 1984. Os dois livros criticavam o totalitarismo, fazendo referências diretas ao governo stalinista.

Se quiser conhecer um pouco sobre o BBB original e a política stalinista, aproveite estas dicas de leitura!

Publicada em: 02/03/2009

Fonte: http://clickeaprenda.uol.com.br/cgi-local/lib-site/conteudo/mostra_conteudo.pl?nivel=m&disc=NOT&codpag=NOT0903020501

segunda-feira, 2 de março de 2009

Obama e as favelas do mundo



Obama e as favelas do mundo
Higor Marcelo Lobo Vieira*

O processo de luta e busca por direitos básicos dos negros norte-americanos é histórico e muitas vezes foi banhado pelo sangue daqueles que buscaram por meio da luta política amenizar o sofrimento dos descendentes africanos oprimidos nas lavouras de algodão, portos e porões, perseguidos, torturados e mortos por membros da Ku Klux Klan e em grande medida por boa parte da sociedade por mais de um século.
Homens como o pastor Martin Luther King, Malcom X, os Black Panthers e muitos artistas/ativistas do Hip Hop que por meio de seus atos políticos, discursos, músicas e organizações, buscaram desmantelar a segregação racial, tão exacerbada nos EUA, sentimento este que acaba por se reproduzir em várias esferas e poderes da sociedade americana, deixando "claro" para todos quais eram as intenções dos descendentes europeus na América, depois do genocídio quase total dos povos indígenas em todo continente reduzindo-os a pequenas reservas – nos EUA foram quase extinguidos do mapa – faltava agora "limpar" a nação dos negros.

Coincidentemente ou não os métodos usados foram bem parecidos com os que foram adotados aqui no Brasil, no sentido de minar a ascensão econômica, política e social dos negros, deixando-os á margem da sociedade e dos processos produtivos, expulsando-os dos espaços do centro e obrigando o deslocamento para áreas como morros, encostas, longe do centro urbano branqueado pela imigração européia no fim do século XIX, início do século XX, deixando um legado de miséria e favelização no Brasil, que desde o império adotou um sistema de concentração de renda, latifúndios, barões do café, senhores de engenho, enquanto a maioria dos homens e mulheres negros desse país sofriam e sofrem uma segregação racial e social tão drástica quanto a norte-americana, maquiada pelo discurso do trabalho, pela miscigenação da nação, desmistificando o ideário racista contido e implícito nas classes dominantes do Brasil.

O grito de liberdade contido na garganta por séculos de exploração do trabalho negro, por séculos de espoliação dos direitos humanos e agressão aos afro-americanos veio em forma de voto, mostrando ao mundo que é possível por meio da democracia trilhar caminhos outros que não seja os de interesse apenas de uma elite conservadora e protecionista... Obama traz as populações negras no mundo uma esperança jamais vista no sentido de que os EUA tenham um novo olhar para com as favelas do mundo.

No Brasil a eleição de Barack Obama teve um efeito duplamente positivo, além de representar a ascensão do homem negro como o mais poderoso do mundo e toda a simbologia implícita neste ato, conciliou ainda, com uma data muito importante para milhões de brasileiros que vivem em áreas consideradas de risco, já que no ultimo dia 04 de novembro foi comemorado em várias capitais e cidades do país o dia da favela, uma iniciativa da Central Única das Favelas – CUFA que visa dar visibilidade às demandas das comunidades, bem como, promover ações que tragam um pouco de felicidade e auto estima um povo tão martirizado. É neste sentido que saudamos as favelas brasileiras e mundiais e brindamos com todos os seres humanos que lutaram e sonharam com esse momento.

* Estudante do 4º ano de Geografia pela UFGD – Universidade Federal da Grande Dourados e Coordenador geral da CUFA / MS